O uso de mini-implantes de fato revolucionou a Ortodontia. A ancoragem esquelética reduziu a necessidade de colaboração do paciente e ampliou as possibilidades de tratamento e tipos de mecânicas possíveis no tratamento de diversos tipos de maloclusão.
O tratamento da Classe III de Angle dentária é um grande exemplo de aplicação dos mini-implantes. A instalação do mini-implante em região de linha oblíqua externa, o chamado bucal shelf, potencializa a distalização de molares inferiores reduzindo os efeitos colaterais da mecânica.
Mas, sabemos que como qualquer tipo de mecânica em Ortodontia precisamos compreender a fundo suas vantagens, desvantagens e indicações. Por isso, preparamos esse texto para você saber tudo sobre a técnica. Acompanhe!
O que é o buccal shelf?
A utilização de mini-implantes no tratamento de pacientes com maloclusão Classe III de Angle é de grande importância para corrigir o posicionamento dos dentes de maneira conservadora. Sem dúvidas, o uso de ancoragem esquelética ofereceu mais opções de tratamento para os pacientes.
Os locais comumente utilizados para a inserção dos mini-implantes estão entre as raízes dentais, os chamados mini-implantes interradiculares ou alveolares. Esse tipo de instalação apesar de ser útil em muitos casos pode ser limitada, principalmente em locais com pouco espaço entre as raízes, ou com estruturas anatômicas importantes.
Por isso, surgiu o interesse pela instalação de mini-implantes em locais no qual os dentes pudessem ser movimentados em conjunto, sem preocupação com dano radicular. Vários pesquisadores estudaram a região de buccal shelf (linha obliqua externa) para a inserção extra-alveolar de mini-implantes com finalidade ortodôntica.
Na atualidade a região de buccal shelf pode ser considerada um bom local para a inserção de mini-implantes. Esse tipo de técnica possibilita a distalização de molares inferiores na correção da Classe III.
Qual a importância dele?
A utilização de mini-implantes na região de linha oblíqua externa o chamado Bucal Shelf é de grande utilidade na Ortodontia. Isso porque os mini-implantes extra-alveolares permitem a realização de uma gama muito maior de movimentos ortodônticos, proporcionando tratamentos cada vez mais eficientes.
Além disso, esse tipo de técnica de inserção reduz a chance de dano às raízes, além de não interferir no movimento distal dos dentes inferiores.
Na parte mecânica, a técnica permite modificar o plano oclusal e reduzir os efeitos colaterais da mesma mecânica realizada sem uso de ancoragem esquelética.
Como funciona o buccal shelf?
Antes de falar da técnica em si vamos elucidar um pouco a estrutura anatômica de inserção do mini-implante. A linha oblíqua externa da mandíbula é uma fossa óssea na região posterior da mandíbula, lateral à área de molares. Podem ser delimitados pelo freio bucal, anteriormente e anexos aos músculos masseter e temporal posteriormente.
É tida como uma área de osso cortical espesso adequada para colocação de mini-implantes extra-alveolares. A recomendação da literatura científica é que os mini-implantes sejam instalados na região vestibular entre o primeiro e o segundo molar ou adjacentes ao segundo molar.
Além de questões anatômicas, o tipo de mecânica utilizada pode afetar o local de escolha da inserção do mini-implante. Através de tomografia computadorizada de feixe cônico pode-se obter informações sobre as dimensões anatômicas ósseas, especialmente
a espessura e a largura do osso cortical, além da profundidade óssea.
Tudo isso é essencial para se avaliar possíveis riscos a estruturas anatômicas nobres além de avaliar o local ideal para inserção.
Quais são as aplicabilidades desse mini-parafuso?
O bucal shelf pode ser utilizado para várias finalidades, no entanto a mais comum é a distalização de molares inferiores em casos de Classe III ou distalização bimaxilar em caso de biprotrusão.
Ele também pode ser utilizado para intrusão de molares inferiores, alteração de plano oclusal, ou servir de apoio para algum outro tipo de mecânica como tracionamento de dentes, ancoragem indireta, mordida cruzada tipo Brodie, preparo orto-cirúrgico, entre outros.
Quando o assunto é ancoragem esquelética precisamos ter criatividade e compreender bem os princípios biomecânicos para saber aplicar essa solução em diferentes casos e com diferentes formatações.
Qual a durabilidade do bucal Shelf?
Os mini-implantes extra-alveolares são instalados diretamente na cavidade bucal e têm altas taxas de sucesso, tanto no ramo mandibular, quanto na plataforma vestibular mandi-
bular (92,8%).
Caso os mini-implantes sejam instalados respeitando todos os protocolos, tenhamos bom travamento inicial, realizarmos ativação conforme prazos estabelecidos na literatura e bons hábitos de higiene sejam mantidos pelos pacientes, os mini-implantes devem permanecer em boca por um longo tempo.
Um mini-implante bucal shelf pode permanecer em boca ao longo de toda mecânica, ou até o final do tratamento sem maiores dificuldades. O cuidado aqui é realizar a correta higienização, evitar contatos oclusais com a cabeça no mini-implantes e obter bom travamento inicial para ter longevidade.
Como deve ser a preparação para a instalação do buccal shelf?
Hoje possuímos tecnologia para planejar com previsibilidade um mini-implante bucal shelf. Por isso devemos e podemos utilizar a tomografia computadorizada para obter informações sobre as relações anatômicas ósseas.
A espessura e largura óssea do osso cortical são considerados fatores importantes para planejar-se e instalar um mini-implante. Antes do tratamento a tomografia deve ser realizada para analisar a relação do mini-implante com estruturas anatômicas importantes, como nervo alveolar inferior e terceiro molares.
Além disso, precisamos determinar o local ideal para instalação do mini implante em relação a estrutura óssea e definir o tamanho do mini-implante que será inserido.
Certos locais de inserção exibem padrões confiáveis enquanto outros não. A decisão sobre onde colocar um miniparafuso ortodôntico é baseada em vários fatores como a biomecânica usada e a anatomia local, a qual está sujeita a variações individuais.
Por isso, caso seja necessário, guias de instalação podem ser confeccionados ao sobrepor a tomografia com o escaneamento intra-oral após a realização do planejamento digital. Dessa forma, a cirurgia será muito previsível.
Como fazer a instalação do buccal shelf?
Agora que você já sabe o que é e quando podemos utilizar o bucal shelf vamos compreender como fazer a instalação desse tipo de mini-implante. O mini-implante autoperfurante pode ser inserido no osso perpendicularmente ao plano oclusal.
No entanto, em osso cortical denso pode ser recomendável utilizar pré-perfuração. Em seguida, é realizado um rosqueamento (3 ou 4 voltas) seguido pela mudança da inclinação de cima para baixo e de vestibular para lingual, formando um ângulo de 70º a 90º com o plano oclusal.
É importante ressaltar que quanto mais obtuso um ângulo, maior a chance de perfurar a tábua óssea vestibular. E quanto mais agudo o ângulo maior a chance de perfurar a raiz. Outros pesquisadores propuseram outros métodos de parâmetro de inclinação para inserção que não fosse baseado na inclinação do plano oclusal.
Outros métodos estão indicados principalmente quando existe alteração do plano oclusal pré-tratamento. Nesse caso, a recomendação é instalar o mini implante aproximadamente 5 a 7mm abaixo da crista alveolar e com a orientação de cerca de 30° em relação à superfície óssea.
Como dissemos no tópico anterior, um guia prototipado pode ser confeccionado tendo como base a análise tomográfica e o modelo 3D das arcadas do paciente. Esse guia facilita muito a inserção do mini-implante.
Após a instalação, a cabeça do parafuso deve permanecer pelo menos 5mm acima do nível do tecido mole, para que o paciente tenha facilidade para realizar a higienização.
Quais cuidados ter ao instalar o buccal shelf?
O procedimento de instalação dos mini-implantes extra-alveolares deve ser muito bem conduzido. Durante a perfuração deve-se evitar o rosqueamento da mucosa nas espirais do mini-implante.
O operador poderá optar pela instalação manual ou com motor de baixa rotação com redução. Deve-se observar o nível de treinamento do operador, a dificuldade e particularidades de cada caso.
Trabalhos científicos apontam que a grande maioria das falhas acontece por fatores biológicos não controlados, como a mastigação e hábitos de escovação. Poucos estudos demonstram intercorrências de instalação. Mas é claro que intercorrências acontecem por isso, estude o caso e planeje antes de realizar.
Quais materiais são necessários para instalação?
Alguns materiais são necessários para realizar a instalação de bucal shelf. Precisamos de instrumentos clínicos e cirúrgicos, anestesia, mini-implante extra-alveolar e o motor de baixa rotação com redução.
Muitas marcas já trabalham com mini-implantes extra-alveolares de diferentes conformações e tamanhos. Por isso, conheça os diferentes tipos de materiais, seus kits, vantagens e desvantagens para saber qual escolher para os seus casos.
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Conclusão
A região de buccal shelf (linha obliqua externa) pode ser considerada um bom local para a inserção de mini-implantes. Esse tipo de técnica possibilita a distalização de molares inferiores na correção da Classe III.
Para realização do procedimento, recomenda-se a solicitar a tomografia com-
putadorizada de feixe cônico associada ao escaneamento intra-bucal para estudo anatômico da região e confecção de guia de instalação.
Poucas intercorrências são observadas e a taxa de sucesso é elevada. No entanto, é interessante estudar a técnica, as peculiaridades de cada caso e acompanhar o paciente de perto no pós- operatório.
