O aparelho ortodôntico fixo é formado por diferentes estruturas: braquetes, bandas, tubos, ligaduras, elásticos e os fios ortodônticos. Cada tipo de fio ortodôntico possui sua finalidade e por isso precisamos conhecer suas propriedades.
Os fios ortodônticos são aqueles que empregam a força mecânica sobre o dente que irá transmitir essa carga ao ligamento periodontal. No ligamento, essa força mecânica será traduzida em resposta biológica em um processo de remodelação óssea que culmina com a movimentação dentária.
Para que esse movimento aconteça da forma que você, ortodontista, almeja, é necessário conhecer os tipos de fios, suas propriedades e funções. Por isso, veja o texto que preparamos para você.
O que é fio ortodôntico?
O fio ortodôntico é uma liga metálica em formato de parábola ou vareta que possui características biomecânicas, que quando associados a peças coladas como braquetes e bandas, possui a principal função de causar o movimento dentário.
Os fios ortodônticos são utilizados ao longo do tratamento ortodôntico fixo, sendo essenciais para esse tipo de tratamento, pois é através deles que os dentes e tecidos circundantes receberão estímulo mecânico que transforma-se em estímulo biológico para o movimento dentário acontecer.
Existem vários tipos de ligas e tipos de fios ortodônticos. Cada um com sua função e indicação para determinado tipo de movimento ou estágio do tratamento. Ao longo dos anos foram sendo desenvolvidas novas ligas encurtando o tempo de cadeira, bem como do tratamento como um todo.
Como surgiu o primeiro fio ortodôntico?
Em 1728, o francês Pierre Fauchard reportou o primeiro método de
movimentação dentária. Essa movimentação era feita através de uma tira de metal
perfurada. Esse aparelho chamado de “bandelette”, utilizava uma tira em forma de ferradura, no qual os dentes mal posicionados eram presos por meio de fibras e,
assim, se deslocavam.
Mais tarde, Angle desenhou seu aparelho (arco E). Esse arco era preso em bandas nos molares. Nele, havia parafusos para aumentar o perímetro do arco e obter espaço para “laçar” os dentes.
Depois dessas versões iniciais, os fios e braquetes foram evoluindo, os materiais mudando e o movimento dentário otimizado.
Para que serve um fio ortodôntico?
O fio ortodôntico serve para promover um estímulo mecânico aos dentes e aos tecidos periodontais para que esse estímulo seja traduzido em resposta biológica, remodelação óssea e movimento dentário propriamente dito.
É através do fio do ortodôntico e do correto posicionamento de braquetes, bandas e tubos que o dente consegue fazer os movimentos necessários durante o tratamento, como rotação, translação, inclinação, torque, entre outros.
Sendo assim, os fios são materiais imprescindíveis para o tratamento ortodôntico fixo e por isso existe a necessidade da ortodontia estudar e dominar todas as propriedades biomecânicas dos mesmos e assim otimizar o seu tratamento.
Fases de tratamento e o fio ortodôntico
Já sabemos que os fios são imprevisíveis para o tratamento, mas agora vamos entender qual é o papel dele nas diferentes fases do tratamento ortodôntico. Veja:
Alinhamento
Na fase inicial do tratamento ortodôntico faremos o alinhamento e nivelamento dos dentes. Para isso é desejável que utilizemos fios com boa capacidade de memória de forma, como os fios de níquel e titânio.
Fios com memória de forma são flexíveis e apresentam menores taxas de atrito, por isso são ideais para o início do tratamento no qual queremos grandes movimentações e baixas taxas de atrito.
Movimentos sagitais, transversais e verticais
Na segunda etapa do tratamento fazemos movimentações chave, que muitas vezes são o grande objetivo do tratamento ortodôntico, como a correção de mordida cruzada, mordida aberta, realizamos extrações dentárias, fechamento de espaços e correção de problemas sagitais.
Nessa fase precisamos de fio de trabalho. Geralmente os mais utilizados são os dio de aço podendo ter uma seção redonda ou retangular. Esses fios se apresentam de diversas espessuras ou calibres, sendo que cada uma está mais indicada para o tipo de movimento dentário almejado.
Finalização
Na terceira e última etapa do tratamento ortodôntico temos a finalização. Nessa etapa já alcançamos os grandes objetivos do tratamento ortodôntico e agora queremos finalizar o caso com perfeição.
Nesta etapa queremos buscar um encaixe perfeito, corrigir posição radicular, corrigir algumas rotações residuais, etc. Para isso, diversos tipos de fios poderão ser utilizados. Isso irá variar de acordo com o profissional.
Existem aqueles que gostam de realizar colagem de braquetes e irão regredir no fio como utilizar fios de níquel titânio, já existem os que gostam de trabalhar com dobras e troque individualizado, e para isso utilizam fios de aço.
Quais os tipos de fios ortodônticos?
Agora que você já sabe o que é e para quê servem os fios ortodônticos vamos conhecer os principais tipos de fios ortodônticos do mercado. Confira:
Ligas de cobalto-cromo
Na década de 60, a “Elgin Watch Company” desenvolveu uma liga metálica que continha 40% de Cobalto, 20% de Cromo, 15% de Níquel, 15.8% de Ferro, 7% de Molibdênio, 2% de Manganês, 0.16% de Carbono e 0.04% de Berílio. Esta liga foi denominada Cromo-Cobalto, e foi colocada à venda no mercado com o nome de “Elgiloy” (Rocky Mountain Orthodontics).
As propriedades mecânicas dessa liga são semelhantes ao aço, porém possui maior formabilidade de arco. Sendo assim, fica mais fácil para o clínico conformar dobras, principalmente nos fios retangulares.
Níquel-titânio ou nitinol (NiTi)
O fio ortodôntico de Níquel-titânio, também conhecido como NiTi, possui grande elasticidade e propriedade memória de forma. Foi desenvolvido pelo programa espacial americano e introduzido no mercado com o nome de Nitinol (acróstico das palavras Níquel, Titânio e NOL – Naval Ordinance Laboratory) pela Unitek Corp.
Atualmente, é um dos tipos mais populares pois é muito indicado logo no início do tratamento quando existem muitos dentes para serem alinhados e nivelados. Na comparação entre as ligas metálicas de uso ortodôntico, a M-NiTi possui boa resiliência, oferecendo forças de baixa intensidade, favorável ao movimento dentário.
Ligas de níquel-titânio com adição de cobre
Nos anos 90 a liga de níquel- titânio com adição de cobre (CuNiTi) surgiu no mercado. Os componentes da liga eram basicamente os mesmos, então pode haver a incorporação de cobre e cromo.
Devido à incorporação de cobre, esses fios passaram a apresentar propriedades termoativas mais definidas do que os fios superestáticos de NiTi. Além disso, esse fio permite apresentar um sistema ótimo de forças, com controle mais acentuado do movimento dentário.
Ligas termoativadas de níquel-titânio
Nos anos 90 foram desenvolvidos os fios de Ni-Ti do grupo ativo (A-NiTi), suplantando os M-NiTi por oferecerem a singular vantagem da superelasticidade. Esses fios oferecem melhor adaptação no braquete, gerando maior simplicidade e rapidez ao tratamento.
A superelasticidade associada ao efeito memória de forma tornou mais fácil e rápido o alinhamento e nivelamento dos arcos dentários.
Ligas superelásticas de níquel-titânio
Em 1985, foi lançada a liga superelástica de níquel- titânio, chamada “Chinese NiTi”. O termo “superelasticidade” ainda não havia sido empregado até aquela época.
Esse fio foi desenvolvido na China e posteriormente teve suas características melhoradas. Esses fios possuem maior recuperação elástica e menor rigidez que o de níquel- titânio convencional de mesma seção transversal, além de menor deformação permanente após flexão.
Aço inoxidável
Os fios ortodônticos de aço inoxidável fazem parte do estágio de trabalho e finalização do tratamento, para nivelar e alinhar os dentes. O material é o mais utilizado pelos odontologistas para dar forma ao arco dentário. Ele faz uma força diferente para mantê-lo no lugar.
Apesar de terem propriedades mecânicas semelhantes às do NiTi, os fios de aço inoxidável têm pouco limite elástico, já que permitem dobras. Por isso, são mais suscetíveis à deformação por forças externas, como a mastigação ou algum trauma físico.
Beta-titânio
A liga de Titânio-Molibdênio é mais conhecida na nossa especialidade como “TMA” (Titanium Molybdenum Alloy – Ormco Corp.). Essa liga apresenta composição de 79% Titânio, 11% Molibdênio, 6% Zircônio, 4% Estanho.
Foi idealizada por Burstone, nos anos 80, com o objetivo de suplantar as vantagens do aço e do M-NiTi ou martensítico estável.
A vantagem mais marcante do TMA é a resiliência, associada a uma moderada formabilidade. Em comparação ao aço inoxidável, o “TMA” apresenta a metade da rigidez, consequentemente o dobro de resiliência.
Como todos os fios, essa liga também possui desvantagens. Uma delas é a alta taxa de atrito que não é interessante em algumas fases do tratamento.
Fios de resina e fibra de vidro
Esse tipo de fio é feito de fibras cerâmicas embebidas em uma matriz polimérica. Por se tratarem de uma inovação estética do fio ortodôntico, ainda precisamos de comprovações científicas para estudar em ouro suas vantagens e desvantagens de uso.
Apesar da excelente compatibilidade com a coloração dos dentes, o fio Optiflex (Ormco /Sybron) foi recolhido do mercado por ser susceptível à fratura. Eles prometem exercer
elasticidade próxima a dos fios M-NiTi, baixo coeficiente de atrito, formabilidade e soldabilidade.
Os fios presentes no mercado exibem grande fragilidade e problemas com relação à hidratação da matriz polimérica, fatos que ainda restringem o uso destes fios, apesar das recentes melhorias na composição da matriz polimérica.
Diferença entre elasticidade e limite elástico do fio ortodôntico
Para entender bem os fios ortodônticos precisamos conhecer sobre propriedades físicas e mecânicas, entre elas podemos destacar a elasticidade e o limite elásticos. Elasticidade e limite elástico podem ser facilmente confundidos, no entanto são conceitos bem diferentes.
O módulo de elasticidade pode ser entendido como a rigidez do material do fio. Essa característica é percebida na hora em que o elemento é dobrado, por exemplo. Portanto, quanto maior o módulo de elasticidade, mais rígido será o fio. E sabemos que fios mais rígidos serão utilizados na segunda e terceira etapa de tratamento ortodôntico.
Já fios com menor módulo de elasticidade, ou seja, menos rígidos, serão utilizados mais no início do tratamento para potencializar os movimentos de alinhamento e nivelamento.
Diferente do módulo de elasticidade, o limite elástico é a tensão máxima que o material suporta ao sofrer uma deflexão sem que haja uma deformação permanente. Ou seja, os fios de NiTi possuem um limite elástico maior do que um fio de aço.
O entendimento das propriedades mecânicas dos fios e ligas permite melhor entendimento clínico das situações nas quais cada fio seria mais indicado. Por isso, encontramos que você estude e conheça essas propriedades mais a fundo.
O que é sequência de arcos?
Como vimos existem vários tipos de fios ortodônticos, cada um com suas propriedades, vantagens e desvantagens. Por isso, temos que conhecê-los a fundo para poder determinar qual fio é ideal para cada tipo de movimento dentário.
Tradicionalmente, em um tratamento padrão e convencional, existe uma sequência lógica para utilização de fios. Qual seria ela? Acompanhe abaixo:
Qual é a sequência de arcos dos fios ortodônticos?
No início do tratamento ortodôntico convencional, ou seja, na fase de alinhamento e nivelamento dentário sugerimos que você faça uso de fios mais flexíveis e com memória de forma como os fios de NiTi.
Normalmente, começamos com fios de NiTi de menor calibre como os 0.12 ou 0.14 e vamos evoluindo esse fio para 0.16, 0.18 ou até fios retangulares conforme o arco vá alinhando e nivelando.
Na segunda etapa do tratamento na qual queremos realizar grandes movimentações, como exodontias e fechamento de espaço, correção sagital, transversal e vertical, geralmente vamos utilizar fios de aço, iniciado com fios menos espessos e de seção redonda e evoluído para fios mais espessos e de seção retangular.
Já no final do tratamento na etapa de finalização temos algumas opções de fios para usar. Para os ortodontistas que gostam de fazer recolagens, talvez nessa etapa tenhamos que utilizar fios flexíveis novamente como os de NiTi.
Existem profissionais que gostam de fazer dobras de finalização. Para esses fios de aço de seção retangular ou redondo poderiam ser usados.
É claro que essa é apenas uma sugestão e sabemos que cada caso é um caso e diferentes complexidades irão exigir diferentes abordagens clínicas e uso de diferentes tipos de ligas e fios. Por isso, esteja focado em aprender e estudar sempre sobre as propriedades dos materiais ortodônticos.
Entenda como o Empreendedor Dentista pode te ajudar
Nós do empreendedor dentista podemos te ajudar de diferentes formas. Você já conhece nosso canal no youtube? Lá, postamos vários vídeos sobre gestão de marketing na odontologia, confira no link.
Conclusão
Os fios ortodônticos são fundamentais para o tratamento com uso de aparelho fixo. Existem vários tipos de fios e ligas nos mercado e cabe a nós, ortodontistas, saber avaliar e ter conhecimento de cada um para saber indicar o seu uso corretamente.
Para potencializar o seu conhecimento, entenda sobre as propriedades biomecânicas do fio e faça uma reflexão sobre qual etapa do tratamento esse fio poderia ser mais útil. Não esqueça de revisar esse tema na literatura pois a cada dia novos materiais e experimentos são realizados.
Quer saber mais? Acesse nosso site e confira mais notícias sobre a área odontológica.
