O tema segurança do paciente é um assunto de saúde pública discutido a nível global. Suas metas foram instituídas por meio de uma parceria entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Joint Commission International (JCI).
A importância da segurança do paciente e os protocolos utilizados para esta postura de trabalho dos profissionais da área médica serão abordados no texto de hoje.
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O que é a segurança do paciente?
A segurança do paciente significa o trabalho para reduzir a um mínimo aceitável o risco de dano associado ao cuidado de saúde.
Chamamos tais danos de eventos adversos, dos quais os principais são: infecções associadas à assistência à saúde, queda, tromboembolismo venoso (TEV), lesão por pressão, erro na aplicação medicamentosa, complicações cirúrgicas, entre outros.
Essa temática começa a ser abordada entre 460-377 A.C. por Hipócrates, o pai da medicina. O estudioso já dizia em seu juramento: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém”.
Seguindo a tendência de diversos estudos, pesquisas, publicações e melhorias, por todo o mundo, o Ministério da Saúde Brasileiro instituiu, através da Portaria 529, de 1 de abril de 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). O programa define inclusive diretrizes importantes sobre tais metas.
Como promover a segurança do paciente?
Para promover a Segurança do Paciente nos serviços de saúde, é preciso inicialmente alcançar o pleno envolvimento dos gestores, dos profissionais dos serviços de saúde e também dos pacientes. O engajamento político-administrativo do governo e a participação aprofundada das agências reguladoras e de empresas da área da saúde também é essencial para uma ação integrada e eficaz na promoção da segurança do paciente.
A promoção da segurança do paciente foi estabelecida de forma clara e objetiva no Programa Nacional de Saúde do Paciente, do qual podemos destacar as principais diretrizes:
Estabelecimento de protocolos para os serviços de saúde
A Portaria MS/GM nº 529/2013 estabelece que um conjunto de protocolos básicos, definidos pela OMS, deva ser elaborado e implantado, como a prática de higiene das mãos em estabelecimentos de Saúde; cirurgia segura; segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos.
Dentre os protocolos se destacam também a identificação de pacientes; comunicação no ambiente dos estabelecimentos de Saúde; prevenção de quedas; úlceras por pressão; transferência de pacientes entre pontos de cuidado; e uso seguro de equipamentos e materiais.
Criação do Núcleo de Segurança do Paciente
Os NSPs, previstos pelo Ministério da Saúde e Anvisa, são instâncias que devem ser criadas nos estabelecimentos de Saúde para promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente.
Os Núcleos de Segurança do Paciente devem, antes de tudo, atuar como articuladores e incentivadores das demais instâncias do hospital que gerenciam riscos e ações de qualidade, promovendo complementaridade e sinergias neste âmbito.
Notificação de incidentes
Para um sistema de notificação de incidentes seja efetivo é necessário que seja um sistema não punitivo; confidencial; independente; com resposta oportuna para os usuários do sistema; orientado para soluções dos problemas notificados; e as organizações participantes devem ser responsivas às mudanças sugeridas.
A notificação dos incidentes propicia a melhoria na qualidade dos serviços de saúde, uma vez que, ao mensurar os incidentes que ocorrem nos serviços de saúde, se torna possível propor medidas para prevenir que ocorrências semelhantes voltem a acontecer.
O envolvimento do cidadão em sua segurança, a inclusão do tema segurança do paciente no ensino técnico, de graduação, pós-graduação e educação dos profissionais de saúde, além do incremento de pesquisas nessa temática podem contribuir para a segurança do paciente.
Qual o objetivo do programa de segurança do paciente?
O Programa Nacional de Segurança do Paciente, do Ministério da Saúde tem como objetivo promover melhorias relacionadas à segurança do paciente, de maneira a prevenir e reduzir a incidência de eventos adversos durante os processos de atendimento e de internação.
Integram o programa metas como a criação e implantação do NSP (Núcleo de Segurança do Paciente), que passa a ser um núcleo de referência dentro de cada instituição para a promoção de uma assistência em saúde segura e também para a orientação aos pacientes, acompanhantes de pessoas internadas e familiares em geral.
Outro protocolo trazido pelo programa de segurança do paciente é a obrigatoriedade de notificação mensal em casos de eventos adversos associados à assistência à saúde.
O objetivo geral do programa é o de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde, em todos os estabelecimentos de Saúde do território nacional, sejam eles públicos ou privados.
Qual é a importância da segurança do paciente?
A segurança do paciente tem suma importância para prevenir e melhorar os resultados adversos aos pacientes, reduzindo, ao máximo, os riscos de danos desnecessários associados ao cuidado de saúde.
A sobrecarga no sistema de saúde e até mesmo a busca desenfreada por maiores ganhos financeiros em detrimento de um atendimento mais longo e de qualidade, faz com que os serviços de saúde sejam identificados com uma certa desumanização em seus processos, como a falta de atenção ao paciente.
A própria inibição dos pacientes e seus familiares, além da falta de estrutura adequada para o atendimento, por exemplo, podem ser fatores que influenciam na segurança e satisfação do paciente, bem como na eficácia do tratamento.
Por isso, implantar protocolos de segurança do paciente ajuda a ampliar a qualidade dos serviços prestados, alcançando não somente o objetivo central, que é o tratamento adequado aos pacientes, mas também melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde.
Quais são os 6 protocolos básicos de Segurança do Paciente?
Criados para evitar eventos adversos aos pacientes durante o tratamento hospitalar, os protocolos básicos de segurança do paciente adotados pelo Ministério da Saúde são elencados em seis itens.
A seguir, um breve detalhamento de cada um deles:
1. Cirurgia Segura
Tem por objetivo a redução da ocorrência de incidentes e de eventos adversos e também da mortalidade cirúrgica. Essa redução de riscos é alcançada por meio da realização do procedimento correto, no local adequado e no paciente certo.
2. Identificação do Paciente
Tem por objetivo garantir a correta identificação de cada paciente, de forma a assegurar que o cuidado de saúde seja prestado para a pessoa correta, a qual se destina realmente o procedimento.
3. Prática de Higiene das mãos
Tem por objetivo a prevenção e o controle das infecções relacionadas à assistência à saúde, seja para os pacientes, seja para os profissionais envolvidos nos cuidados aos pacientes atendidos.
4. Prevenção de Quedas
Tem por objetivo a redução de ocorrências de quedas de pacientes nos locais de assistência à saúde. E visa, principalmente, a redução dos danos decorrentes de tais quedas.
5. Segurança na Prescrição e de Uso e Administração de Medicamentos
Tem por objetivo a promoção de práticas seguras para o uso de medicamentos em locais de saúde, buscando sempre a administração do medicamento correto para o indivíduo certo e na dose exata.
6. Úlcera por Pressão
Tem por objetivo a prevenção da ocorrência de úlceras por pressão e de outras lesões da pele. Feridas de pele, as úlceras por pressão se desenvolvem pela carência de oxigenação na superfície da pele.
Quantas e quais são as metas internacionais de segurança do paciente?
Ao envolver todos os estudos, práticas e ações propostos por instituições de saúde para eliminar ou ao menos diminuir os riscos de danos desnecessários aos pacientes durante os cuidados de saúde, surgem as metas internacionais de segurança do paciente.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) junto da Joint Commission International (JCI) criaram as metas internacionais de segurança do paciente, que reúnem estratégias focadas em situações que geram maior risco em tratamentos de saúde e às quais o Ministério da Saúde adota e nas quais se inspirou para criar as metas brasileiras de segurança do paciente. Acompanhe:
- Identificar corretamente o paciente:
Utilizar estratégias para a identificação correta evita esse tipo de equívoco, como: todo paciente deve utilizar pulseira com dois identificadores (nome, prontuário, data de nascimento, nome da mãe); a pulseira deve ser checada antes de qualquer procedimento (medicamentos, hemotransfusão, coleta de exame); se possível, o paciente deve fazer uma confirmação verbal do seu nome.
- Melhorar a efetividade da comunicação:
Ao efetuar um relato verbal, escrito ou por telefone, o profissional precisa se certificar de que o outro o compreendeu e registrou a informação da forma certa. Os registros e a passagem de plantão devem ser compreensíveis e de fácil leitura.
- Melhorar a segurança das medicações de alta vigilância:
A lista de medicações de alta vigilância, que costumam incluir eletrólitos concentrados, insulina, heparina e drogas vasoativas (epinefrina) é definida por cada instituição. Algumas formas de aumentar sua segurança são: enviar medicação individualmente para o paciente com identificação de alta vigilância (etiqueta vermelha); não deixar essas medicações com fácil acesso; separar essas medicações das medicações comuns.
- Garantir cirurgias seguras:
Os passos para a cirurgia segura incluem: educar os pacientes sobre o local e o tipo de cirurgia que será feita; usar listas de verificação antes da indução anestésica, da incisão cirúrgica e antes de o paciente deixar o centro cirúrgico.
- Reduzir o risco de infecções associadas ao cuidado em saúde:
O ensino e incentivo aos profissionais pode ser feito por meio de cursos, cartazes e lembretes afixados nas dependências do hospital. Outras formas de reduzir o risco de infecção são: monitorar o uso de antibióticos; implementar medidas para prevenção de infecção de corrente sanguínea pelo correto manuseio de cateteres venosos; usar os isolamentos de forma correta.
- Reduzir o risco de lesões decorrente de quedas
Todos os pacientes devem ser avaliados e identificados quanto ao seu risco de queda. Nos casos de maior risco de queda, é necessário garantir: eliminação de obstáculos e objetos no chão; presença constante de acompanhante; ajuste de medicamentos que causem fraqueza ou tontura.
Quais são as medidas de conforto e segurança do paciente?
As medidas de conforto e de segurança são também necessidades básicas de todo ser humano e podem manifestar-se pelo anseio de proteção perante perigos físicos, ameaças espirituais, psicológicas e dor.
Podemos definir conforto como o estado em que as necessidades básicas relativas aos estados de alívio, tranquilidade e transcendência estão satisfeitas.Uma boa postura, além do conforto e do relaxamento é fator preponderante para o funcionamento metabólico.
No conceito da palavra, o termo conforto deriva de confortar, que significa auxílio, apoio numa aflição, numa situação de dor, de infelicidade; ato ou efeito de confortar; ajuda, consolação, consolo. Do latim, confortare tem o significado de restituir as forças físicas, o vigor e a energia; tornar forte, fortalecer, revigorar.
Quando da admissão do paciente, se suas condições físicas permitirem, deve-se apresentá-lo para os companheiros de enfermaria e para a equipe de saúde, mostrar as dependências e orientá-lo quanto a equipe de saúde e quanto à rotina da unidade.
Todas as condutas terapêuticas e assistência devem ser precedidas de orientação, de esclarecimento de dúvidas e de encorajamento.
Além do acolhimento social, outras medidas necessárias para levar conforto ao paciente é a oferta de ambiente arejado, limpo e organizado, que tenha temperatura adequada, com leito confortável.
Proporcionar a este paciente a higiene pessoal adequada, boa postura, movimentação ativa ou passiva, respeito à individualidade, mudança de decúbito; recreação por meio de leitura, grupos de conversa, televisão, trabalhos manuais, entre outras ações, são medidas de conforto e segurança do paciente.
Segurança do paciente na Odontologia
A Odontologia tem evoluído com relação aos aspectos da segurança do paciente, principalmente devido à possibilidade de acesso a estudos diversos, com metodologias e objetivos variados, o que possibilita identificar uma gama de proposições para a melhoria da segurança do cuidado.
No ano de 2011, a OMS lançou o guia para organização do currículo de segurança do paciente multiprofissional, visando auxiliar as escolas de Odontologia, Medicina, Enfermagem e Farmácia a ensinar segurança do paciente.
As chances de ocorrência de eventos adversos são amplificadas na Odontologia, devido à atuação fragmentária e solitária dos dentistas. Tendo em vista a complexidade do atendimento em saúde, que compreende tanto os fatores ambientais quanto os fatores inerentes à ação humana, a conformação de um ambiente que seja favorável à segurança do paciente odontológico requer um esforço redobrado.
Esse esforço e engajamento precisa ser conjunto, interdisciplinar, envolvendo a indústria, a universidade, a gestão dos serviços, os cirurgiões-dentistas, além dos próprios pacientes e os seus familiares.
Dessa forma, para reduzir as possibilidades de ocorrência de danos aos pacientes, o profissional da Odontologia deve sempre manter-se atualizado quanto aos estudos qualitativos e quantitativos buscando capacitação e treinamento continuados.
Estudos apontam, por exemplo, que a ergonomia, o uso de insumos apropriados e o tempo de atendimento suficiente resultaram em um trabalho real mais próximo do idealizado, com maior segurança aos pacientes de Odontologia.
Conclusão
Já se sabe que os incidentes associados aos cuidados de saúde representam uma alta morbidade e mortalidade no Brasil e em todo o mundo. A segurança do paciente é essencial para a redução dos riscos de danos desnecessários associados à assistência em saúde. Baixar os eventos adversos até um mínimo aceitável é a principal meta do programa.
De acordo com a Federação Brasileira de Hospitais, a incidência de pacientes que passam por alguma espécie de evento adverso durante sua hospitalização pode chegar a aproximadamente 17%, variando conforme o estudo realizado.
Dentre os eventos adversos, podemos citar o aumento do tempo de hospitalização, lesões temporárias ou permanentes e até mesmo a ocorrência de óbito. Por isso, o gerenciamento de riscos direcionado para a segurança do paciente é um assunto de extrema relevância e que deve ser amplamente discutido, avaliado e implementado no setor de saúde.