Você sabia que um dentista é mais suscetível a doenças ocupacionais devido a sua postura de trabalho? Isso acontece porque em muitos casos, a ergonomia na odontologia acaba passando despercebida no seu dia-a-dia.
De acordo com estudos realizados em diversas Universidades do país, 85% dos profissionais da área sentem ou já sentiram algum tipo de dor. E as partes do corpo mais acometidas são: ombros, região cervical e região lombar.
É por isso que no texto de hoje vamos falar sobre a importância da ergonomia na Odontologia, tanto do conhecimento dos conceitos pelos dentistas como também da implementação na sua rotina. Boa leitura!
O que é Ergonomia na Odontologia?
A palavra ergonomia tem origem nos termos gregos érgon (trabalhos) e nomos (leis e regras). Assim, podemos dizer que etimologicamente ela tem significado de leis que regem o trabalho.
Essa é uma disciplina científica que busca entender as interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, como por exemplo, o seu ambiente de trabalho, buscando criar princípios e métodos que harmonizem o bem estar dos profissionais e o desempenho de suas funções.
A ergonomia passou a ganhar destaque no Brasil em 1943, com a publicação do Decreto-Lei nº 5.452 que aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Na Odontologia, não é raro as queixas relacionadas a dores e, neste caso, a ergonomia ajuda a diminuir o estresse físico e mental, prevenindo doenças relacionadas à prática do trabalho e, consequentemente, aumentando a produtividade.
A utilização inadequada de equipamentos e a falta de postura na realização de algumas tarefas cotidianas podem interferir na saúde geral do dentista, uma vez que essa profissão exige a interação com diversos equipamentos, instrumentais e até mesmo com o próprio ambiente.
Para a boa prática da profissão é necessário concentração e precisão de movimentos, a fim de evitar uma posição postural delimitada.
Qual a importância da Ergonomia na Odontologia?
A ergonomia na Odontologia é fundamental para melhorar as condições de trabalho dos dentistas, criando e aperfeiçoando as ferramentas utilizadas pelos profissionais de saúde oral.
Vale ressaltar que a má utilização dos equipamentos e a falta de postura na realização de algumas tarefas podem interferir na saúde geral do dentista.
Sabemos que o ambiente de trabalho de um dentista é composto por uma vasta gama de equipamentos e mobiliários, além do ambiente em si. E a combinação adequada de todos esses fatores torna-se um desafio, haja vista uma busca constante por um bom campo visual de trabalho diante do paciente, somado à necessidade de alcance dos instrumentos a serem utilizados.
Todo esse contexto acaba exigindo repetição de movimentos, além da rotação do tronco, flexão da cabeça forçando a musculatura cervical, escapular e torácico-lombar, manutenção dos membros superiores suspensos, entre outros constrangimentos corporais. Daí a importância de da ergonomia na Odontologia.
Quais são os objetivos da Ergonomia na Odontologia?
O uso da ergonomia na Odontologia é fundamental para que se possa obter um ambiente de trabalho adequado para o dentista, sendo ele seguro, saudável e confortável.
Dessa maneira, podemos dizer que o principal objetivo da ergonomia na Odontologia é a diminuição do estresse físico e mental, prevenindo as doenças relacionadas à prática da profissão e, consequentemente, buscando uma produtividade mais expressiva.
Quais são os riscos ergonômicos para um Dentista?
Uma das doenças mais comuns entre os dentistas, que não colocam em prática os princípios da ergonomia durante a realização do trabalho, é a LER/DORT, que é uma síndrome relacionada a prática do trabalho, e pode lesionar tendões, músculos, nervos e ligamentos.
As LER (lesões por esforços repetitivos) e as DORT (doenças osteomusculares relacionados ao trabalho) são caracterizadas pelo desgaste das estruturas do sistema musculoesquelético.
Essa doença se enquadra nos riscos ergonômicos para um dentista pois está relacionada a posturas desconfortáveis e assimétricas, velocidade dos movimentos, excesso de força e movimentação repetitiva por longos períodos. E as principais regiões afetadas são: cervical, pescoço, lombar, dorsal, ombros e bacia.
Doenças Posturais relacionadas a Odontologia
As doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho são consideradas um problema de saúde pública pela alta prevalência em diversas profissões. E a melhor maneira de controlá-las é através da prevenção.
Para você ter uma ideia da gravidade do problema, as LER ou DORT são relacionadas como a segunda causa de morbidade na população adulta em diversos países, até mesmo no Brasil, e os dentistas estão entre os profissionais mais acometidos por estas doenças.
Entretanto, muitos profissionais não conhecem os riscos a que estão sujeitos e acabam não colocando em prática a ergonomia na Odontologia. E isso é muito grave, pois pode levar o profissional à incapacitação temporária ou até mesmo permanente, dependendo da evolução da doença.
Exemplos:
- Síndrome cervical: degeneração do disco cervical associada ao trabalho repetitivo;
- Hernia de disco: desgaste dos discos intervertebrais, comprimindo as raízes nervosas que emergem da coluna, provocando dor intensa;
- Cervicobraquialgia: dor na coluna cervical com irradiação para o braço, devido à compressão de raízes nervosas que saem dessa região;
- Cifose: popularmente conhecida como corcunda, é o desvio da coluna vertebral com arredondamento para frente;
- Escoliose: curvatura lateral da coluna vertebral, que pode ser única ou múltipla;
Outras enfermidades:
- Tendinite: inflamação do tecido próprio dos tendões;
- Epicondilites lateral e medial: provocadas por ruptura ou estiramento dos pontos de inserção dos músculos flexores ou extensores do carpo no cotovelo;
- Bursites: inflamação da bursa (inflamação aguda ou crônica do saco preenchido por líquido debaixo dos tendões;
- Tendinite do supraespinhoso e bicipital ou síndrome do ombro doloroso: é uma patologia do ombro em que apresenta inflamação ou lesão no tendão que liga tal músculo à estrutura óssea.
- Túnel do carpo: doença resultante da compressão do nervo mediano no canal do carpo, que se localiza entre a mão e o antebraço. Túnel cubital: doença causada pela compressão (pinçamento) do nervo cubital no cotovelo;
- Desfiladeiro torácico: compressão do plexo braquial em sua passagem chamado desfiladeiro torácico, que causa dor no ombro, pescoço e fraqueza nos dedos.
Como aplicar a Ergonomia na Odontologia?
Como vimos até aqui, os riscos ergonômicos podem comprometer seriamente a saúde do dentista, surgindo assim prejuízos no seu desempenho. Por isso, é muito importante prevenir os riscos ergonômicos.
Conheça algumas medidas que podem ser tomadas para evitar as doenças relacionadas acima.
Ajuste do Mocho
A altura do mocho ou assento deve permitir que um profissional, com variação de estatura de 1,50 m a 1,80 m, possa sentar-se corretamente, isto é, com o fêmur paralelo ao solo. Isso permitirá que a circulação de retorno (hemodinâmica) se processe naturalmente, sem risco de compressão das safenas. O encosto do mocho também deve proporcionar ajustes de altura e profundidade.
Hoje em dia, existem algumas marcas cujo mocho não possui encosto, tendo seu assento em forma de sela de cavalo ou até mesmo como uma bola de fisioterapia, o que força o equilíbrio e a melhoria da postura do dentista.
Posição da Cadeira do Paciente
A cadeira do paciente deve ser reta e simples, permitindo que o paciente seja confortavelmente instalado na posição horizontal. Dessa maneira, ele mantém o corpo totalmente apoiado, facilitando o acesso do dentista ao campo de trabalho.
Outro ponto importante é que o apoio de cabeça deve ser ajustável, propiciando a visão direta a todos os segmentos da cavidade oral, seja na mandíbula ou na maxila, na distância correta de visibilidade.
Tamanho e Disposição do Consultório
A área total do consultório de um dentista não deve ter mais que três metros de largura para não ser anti ergonômico. Em toda essa área ficam as pias e armários fixos, sendo que as gavetas, quando abertas, devem cair dentro de um círculo de 1,5m de raio.
Já a área útil de trabalho, que é o espaço máximo de pega, que pode ser alcançado com o movimento de esticar o braço, não deve ser maior do que 1m de raio.
Posicionamento Ergonômico ideal
De acordo com as posições consagradas em ergonomia, o ideal é que o dentista ocupe a posição de 9h e o auxiliar a de 3h. Dessa maneira é possível trabalhar com visão direta, tanto da mandíbula como da maxila.
Outro ponto importante é que a perna esquerda do dentista deve estar posicionada sob o encosto da cadeira, e a direita ao lado do braço direito da cadeira. No caso de o profissional ser canhoto, a posição é invertida com a auxiliar.
Sabemos que a postura incorreta pode afetar seriamente a saúde do profissional, levando a deformações irreversíveis da coluna vertebral.
Dicas importantes para o Posicionamento Ergonômico
- Sentar no mocho com a parte das coxas paralelas ao chão formando um ângulo de 90º com as pernas e os pés apoiados no chão. Acima de 90º há maior compressão da circulação venosa de retorno o que resulta no aparecimento de varizes.
- Manter as costas retas e apoiadas no encosto do mocho e a cabeça ligeiramente inclinada para baixo.
- Trabalhar com os cotovelos junto ao corpo ou apoiados em local que esteja no mesmo nível.
- Ajustar a altura da cadeira de maneira que uma das pernas do dentista possa ser colocada sob o encosto.
- Posicionar o cabeçote para baixo, quando o trabalho for realizado na maxila, ou para cima e para frente, caso seja na mandíbula.
- Posicionar o paciente deitado na cadeira de modo que a boca do mesmo fique no mesmo nível dos seus joelhos.
- Manter uma distância de 30 cm da boca do paciente.
- Posicionar o refletor à frente do paciente para trabalhar na maxila ou perpendicularmente à cabeça do mesmo para o trabalho na mandíbula.
- Utilizar sugadores de alta potência para evitar que o paciente utilize a cuspideira, pois isso acarreta mudanças constantes da posição, além de perda de tempo.
- Fazer um intervalo de 10 minutos a cada 90 minutos de atendimento.
Como realizar adequadamente o trabalho a 4 mãos na Odontologia?
Para realizar adequadamente o trabalho a quatro mãos em Odontologia, alguns especialistas sugerem as normas da International Standards Organization (ISO) e da Federação Dentária Internacional (FDI) para sistematizar numericamente as posições a serem adotadas pelo dentista e seu auxiliar durante o atendimento.
Esse sistema funciona como em um mostrador de relógio imaginário colocado sobre a cadeira odontológica, em que o número 12 do relógio está posicionado na cabeça do paciente e o número 6 em seus pés.
E então, a área delimitada pelo círculo do relógio, chamada de zona de transferência, é onde ficam a bandeja auxiliar e os instrumentos a serem transferidos à boca. Este círculo funcional permite que os dois profissionais fiquem sentados de um modo mais ergonômico e o alcance às ferramentas necessárias à sua atividade, sem precisar fazer esforço adicional às suas articulações.
A posição pode ser determinada com base no posicionamento do profissional em relação a seu paciente. Geralmente, o dentista destro posiciona-se em 7, 9 ou 11 horas e o canhoto em 5, 3 e 1 horas.
A posição 9h é muito adotada pelos profissionais por permitir trabalhar em visão direta, mesmo nas regiões de difícil acesso. Nessa posição a perna do dentista fica posicionada sob o encosto da cadeira do paciente e do lado direito do braço da cadeira. Já na posição 11h, o dentista fica atrás do paciente trabalhando com boa visão indireta, utilizando espelhos.
Dicas para qualidade de vida do Dentista
Alguns hábitos básicos, como alongar os músculos mais utilizados durante o dia de trabalho e realizar pausas, podem melhorar significativamente o bem estar e conforto do dentista.
O importante é lembrar sempre que se preocupar com a ergonomia, bem como cuidar da saúde de forma geral ajuda a prevenir doenças que não só atrapalham como podem proibir que o dentista exerça a sua profissão.
Daí a importância de seguir as dicas a seguir, pensando no ambiente de trabalho de forma global e levando em consideração a forma como interagimos com ele.
Além disso, é muito importante lembrar de respeitar todos os protocolos de biossegurança na Odontologia. Para saber quais são, basta acessar o nosso material exclusivo.
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Exercícios para alongamento no dia a dia
As regiões que os dentistas devem mais se preocupar em alongar e exercitar é a do pescoço, ombros, cotovelos, mãos e punhos. Descubra, a seguir, alguns alongamentos simples que podem ser feitos no seu consultório.
1. Braços
Sentado, entrelace os dedos das mãos e estenda os braços para cima, com as palmas viradas para o alto. Permaneça assim por 30 segundos, mantendo a postura ereta e olhando para frente.
2. Pescoço
Coloque a mão direita sobre o lado esquerdo da cabeça, puxando-a na direção do ombro direito. Em seguida, vire o rosto para baixo, em direção à axila, e puxe novamente. Realize cada um desses exercícios por 30 segundos e repita o processo com o outro lado do corpo.
3. Lombar
Sentado e com as pernas separadas, na linha dos ombros, vá debruçando o tronco lentamente para a frente, sobre as coxas. Ao encostar o abdômen sobre as pernas, incline a cabeça para a frente. Fique nessa posição por 30 segundos.
4. Mãos e punhos
Sentado, estique o braço direito para frente e, com a mão esquerda, incline os dedos da mão direita para frente. Repita esse exercício com o outro lado.
Outras dicas interessantes, além do alongamento no dia a dia, são:
- Sempre que possível, dividir os tratamentos que duram muitas horas em mais de uma sessão;
- Adaptar os móveis do consultório de uma maneira que possibilitem posições ergonômicas;
- Realizar atividade física pelo menos três vezes por semana;
- Usar meias de média compressão para prevenir o surgimento de varizes;
- Evitar luvas que apertem o punho;
- Prestar atenção na postura durante o trabalho.
Conclusão
A ergonomia em Odontologia pode ser considerada uma estratégia efetiva para o aumento de produtividade e a redução de problemas de saúde entre os profissionais da área. Entretanto, muitos profissionais acabam buscando ajuda apenas quando a disfunção já está instalada.
No caso dos dentistas, estas doenças têm como causa a postura incorreta ou a repetição dos movimentos, assim como a posição estática sem apoio de membros superiores e articulações fora da zona neutra.
Alguns fatores agravantes dessas enfermidades são a pressão psicológica e o tempo de repouso insatisfatório.
Sendo assim, incluir na rotina os procedimentos de ergonomia na Odontologia é fundamental para evitar situações desagradáveis ou danos na saúde do profissional.
Vale ressaltar ainda que os exercícios e alongamentos aplicados para o combate das doenças ocupacionais para dentistas servem para fortalecer e condicionar grupos musculares importantes para estabilizar a coluna lombar e cervical, também cintura escapular e membros superiores.
Ou seja, a prevenção é sempre a melhor escolha para obter equilíbrio muscular e o condicionamento que o corpo precisa, pois mesmo assumindo uma postura inadequada, os dentistas conseguem lidar melhor com algumas situações se estiverem com a coluna estável, com musculatura forte e flexível.
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